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Viajando 2500 Kms de Fusca

Quando comprei meu Fusca, o Eugênio (@fuscaeugenio), no começo de 2017, minha intenção já era colocar ele na estrada e rodar por ai. Mas 2 anos e meio depois que comprei ele, e com a restauração pronta a pelo menos 8 meses nada da estrada ainda! Apenas algumas idas para a praia e alguns encontros de antigos no interior de São Paulo.

Em julho de 2019 consegui alguns dias de folga e vi a oportunidade perfeita para fazer minha primeira viagem grande com ele. Para onde? Não sabia. Com quem? Menos ainda!

Não seria minha primeira viagem grande de carro antigo, já havia feito isso de Kombi algumas vezes. Para começar, dei aquela revisada básica no carro, cabos de embreagem e acelerador, freios, troquei óleo, comprei algumas peças “quebra galho, como bobina, bomba de combustível, velas, correia e etc.

Com o carro pronto e a mala (dele) arrumada, comecei a procurar pretendentes para a aventura, fiz uma lista de amigos e mandei a mensagem: “Bora viajar de Fusca?”. Recebi algumas negativas e algumas reclamações de que o Fusca não tem ar condicionado. Quando eu menos esperava, a Anaís, uma das minhas melhores amigas, prontamente respondeu: “bora, quando vamos?”. E depois de alguns dias ainda planejando a viagem, Gabriella, outra grande amiga se interessou na loucura.

O roteiro foi planejado em cima da hora pois não estávamos encontrando um roteiro que fosse do agrado de todos e para completar, tempo não estava colaborando. Dois dias antes de partir, decidimos que iriamos subir até Ubatuba e depois descer até onde desse na telha. Estava pronta a Eugetrip, nome que a Gabi deu para nossa viagem.

Minha aventura com Eugênio, Ana e Gabi começou aqui em São Paulo, onde moramos. Saímos bem cedo e fomos direto para Ubatuba, o universo parecia conspirar, pois depois de dias de frio e chuva, estava por volta de 30 graus e nenhuma nuvem no céu. Pegamos as Rodovias Ayrton Senna, Carvalho Pinto e Oswaldo Cruz até serra de Ubatuba, famosa por acabar com os freios dos carros, mas o Eugênio e seus freios a tambor aguentaram bravamente (ufa!).

Ficamos 3 dias em Ubatuba – SP conhecendo algumas praias e aproveitando o sol que nos agraciava. Com muita estrada pela frente seguimos pelo litoral de São Paulo, passando pelas cachoeiras que encontrávamos na estrada e algumas das praias mais bonitas do litoral norte do estado, Praia do Capricórnio (Caraguatatuba – SP), Baraqueçaba, Toque-Toque pequeno e Maresias (São Sebastião – SP) e Riviera de São Lourenço (Bertioga – SP).

Nosso plano era ir até Cananéia – SP, a última praia do litoral sul do estado, mas o tempo virou e como já estávamos na estrada a 7 dias, resolvemos seguir direto para nosso segundo ponto, a Caverna do Diabo em Eldorado – SP!

Por do sol em Toque-Toque Pequeno

Depois de uma semana de viagem e pouco mais e 400 Kms rodados, saímos de Bertioga e fomos direto até Registro – SP, mais 250 Kms. Tudo ia bem na estrada, começo de noite, mas chegando em Miracatu – SP, cerca de 35 Kms antes de Registro, o carro começou a falhar e ficou sem força. A bobina estava fervendo e para nos salvar, a água gelada e o paninho entraram em ação! Com tudo resolvido fomos até o hotel para nós e a bobina descansarmos.

No dia seguinte partimos para a caverna, um trecho de cerca de 100 Kms. Aquele clima interiorano, plantações de banana para todo o lado, paisagens naturais, tudo lindo, porém cerca de 20 Kms dentro da Rodovia SP-193 a estrada mostrou quem ela realmente era, uma das piores estradas que já andei na vida! Daquelas onde você tem que escolher em qual buraco você prefere cair, e a SP-165 que também faz parte do caminho é igualmente ruim ou até pior, o trecho que deveria demorar um pouco mais de uma hora durou quase duas e meia, pois além de tudo o Eugênio é rebaixado!

Pesquisando no Google sobre qualquer uma das duas rodovias, os primeiros resultados são notícias sobre as más condições da pista e a incompetência do governo do estado de São Paulo na resolução do problema. Curiosamente a SP-193 é a representação de como o Brasil cuida de sua história, pois essa é a primeira rodovia oficial do estado de São Paulo e acredita-se que pode ser a primeira do Brasil.

Chegando na caverna, que faz parte do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, o PETAR, nosso mau humor por conta da rodovia deu lugar ao deslumbre e a calma. O lugar é simplesmente lindo, rodeado de mata atlântica, possui cachoeiras, diversas trilhas (algumas com mais de uma hora de duração), uma vasta diversidade de animais e plantas, além claro, a caverna.

A Caverna é um espetáculo a parte! Ela é a maior caverna do estado de São Paulo e a segunda maior do Brasil, com cerca 6200 metros de extensão e 600 metros liberados para visitação que são simplesmente estonteantes! Ela é repleta de formações rochosas como estalagmites e estalactites com mais de 100 mil anos (e você achando seu carro antigo), algo diferente de qualquer outra coisa que já vi na vida, vale muito a visita! O passeio na caverna dura cerca de uma hora e meia, é totalmente iluminado e com o acompanhamento de um guia.

O parque conta com um restaurante com um cardápio bem servido e preços razoáveis, além de uma loja de lembrancinhas. O valor da entrada é de R$32 por pessoa, R$16 para entrada e R$16 para os guias, vale cada centavo!

Depois do passeio agradável retornamos por aquela estrada tenebrosa até a BR e rodamos mais ou menos 250 Kms até Curitiba – PR, onde ficamos hospedados no Kombi Hostel, um lugar super agradável, próximo ao Jardim Botânico, com toda a decoração com temática de Kombi.

Ficamos 3 dias na cidade, visitei alguns familiares, busquei meu priminho na escola para ver a molecada se estapeando com o Fusca azul e fizemos os típicos roles de turista, fomos a Opera de Arame, Jardim Botânico, Museu Oscar Niemeyer, todos passeios excelentes! E no último dia na cidade fomos ao parque Barigui onde fomos muito bem recebidos pelos mascotes de Curitiba, as capivaras! Sim, as capivaras mais simpáticas que já você pode conhecer são paranaenses.

Aproveitei esses 3 dias e dei uma mexida na bobina e distribuidor, o que aparentemente resolveu, pois o carro não esquentou mais durante toda a viagem. Depois de “turistar” na capital paranaense e colocar o Eugênio em ordem seguimos viagem até Floripa, mais 320 Kms de viagem, o que normalmente dura entre 3 e 4 horas.

Estacionamento do Museu Oscar Niemeyer

Esse trecho talvez tenha sido o mais cansativo da viagem. Era sexta-feira, e como o tempo estava bom, a estrada estava lotada! Na estrada lotada os barbeiros predominavam e aparentemente o pessoal tem sérios problemas em serem ultrapassados por um Fusca! O Eugênio tem motor 1300 original, mas tem uma coisa que só alguns Fuscas tem, ele foi preparado por nosso consultor técnico, Alaor Espósito! Não é um carro para “pau”, mas é um Fusca forte que sobe serra em terceira e chega a 150 Km/h no plano sem muitos problemas. Entretanto para a galera na estrada ser ultrapassado por um Fusca parecia ser uma ofensa a honra e quando viam o besouro azul na esquerda dando seta para passar, começavam a agir iguais verdadeiros babacas, sem contar com o trânsito de quase uma hora meia que pegamos próximos a Joinville por conta de obras na via.

Depois de muito trânsito e fazer alguns “pilotos” passarem raiva, chegamos em Floripa e de cara fomos recebidos pela maravilhosa e iluminada Ponte Hercílio Luz. Dei um pouco de folga para o Eugênio e para minha perna esquerda, que já estava doendo bastante por conta da dureza do pedal de embreagem, e fomos curtir um pouco dos bares no centro de Floripa.

Ficamos 8 dias na ilha da Magia e visitamos algumas das praias mais bonitas como Campeche, Galheta, Mole, Armação, Joaquina, Barra da Lagoa e a minha preferida, Matadeiro, onde levei até o Eugênio para a areia!

Praia do Matadero

Floripa é uma cidade fora do comum, praias lindas, clima maravilhoso e um povo extremamente hospitaleiro e receptivo, já fui algumas vezes para lá e sempre volto mais apaixonado por lá e com mais amigos!

Depois de 20 dias incríveis e mais de 1700 Kms rodados entre estradas e trechos urbanos, estava na hora de voltar para casa, pegamos a BR sentido Curitiba-PR onde ficamos mais um dia para descansar e passear mais um pouco. Saindo de Curitiba optamos por sair da BR e pegar a estrada da Graciosa, que começa na cidade de Quatro Barras – PR e vai até Morretes PR (PR-410), é uma estrada cheia de curvas, antiga rota dos tropeiros e considerada uma das mais bonitas do Brasil. Cerca de 50 Kms a mais no seu caminho, mas que rendem uma bela passeio e belas fotos!

Depois dessa última parada, seguimos de volta para São Paulo e os últimos 450 Kms da viagem, que foram extremamente tranquilos, a não ser pela dor na perna esquerda que já estava forte por conta dos dias dirigindo.

Foram 22 dias de uma viagem incrível, onde rodamos aproximadamente 2500 Kms, 3 estados, fizemos diversos amigos e nos divertimos demais!

Estrada da Graciosa

Como é viajar toda essa distância de Fusca? Cansativo, quente e barulhento, pois ou passamos calor de vidro fechado ou ficamos surdos de vidro aberto. Algum arrependimento? Só de não ter rodado mais! Viajar de carro antigo é uma experiência única e te proporciona coisas que outros carros não poderiam!

A revisão e manutenção frequente é extremamente importante! Mesmo com tudo em dia, o Eugênio apresentou pequenos problemas no trajeto, não nos atrapalhou, mas se não tivesse a manutenção em dia, já teríamos ficado pela serra de Ubatuba mesmo. Além disso, se você puder, contrate um seguro de assistência 24 horas, diversas seguradoras já fazem para carros antigos e pode te livrar de bons apuros!

Confira mas algumas fotos da viagem

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